sábado, 28 de fevereiro de 2009

enigma.


Não venha me dizer o que é aceitável. Não venha me mostrar o que é justo, o que é correto. Não vem me dizer o que os livros mostram e o que o coração não diz. Esqueça todas as suas conversas, os seus livros, os seus filmes e o seu ouvido aguçado para a música. Não pense em vir com filosofias não compartilhadas, com amores não ditos, com vida dita vivida.
Não que os livros, e os filmes não sejam necessários, não que a arte deva ser desprezada. Mas me venha com mais que isso.
Não se acostume a falar, a discursar e a ver a banda passar. Não se acostume com sorrisos aflitos, com olhares perdidos, com povo sofrido.

Não venha me dizer o que é bom. O que devo fazer, a quem devo seguir, como me comportar. Não me venha apenas com a retórica da academia, ou com a filosofia da mesa de bar.
Não se acostume a não ver, a não viver, a não se comover.

Traga consigo todo sentimento que você puder carregar. Mostre-me não apenas que é culto, que é nobre. Mostre-me o oculto, os laços invisíveis, as palavras que não precisam ser ditas para serem compreendidas.

Se você quiser vir assim, que venha. Mas te garanto: Prefiro esse jeito-sem-jeito. Esse amor imperfeito. Esse riso que é pranto e vida. Pode até que seja rua-sem-saída. A gente se supera superando as enfinges contidas.
Venha, por favor, não deixe de vir.
Venha sendo mendigo, sendo catador, sendo mulher, sendo operário. Venha sendo todos e não sendo ninguém.
Venha aberto, descoberto.
Não espere, de maneira alguma. Não espere o porvir.