terça-feira, 7 de abril de 2009

Sobre transporte público e exploração

Hoje andando de carro calmamente pelas ruas de Niterói, vejo meu retrovisor voando do meu lado. Foi parar do outro lado do asfalto. A "vítima" fui eu, o "causador" o ônibus.
Passado todo o desespero inicial, o motorista do ônibus muito solicito parou o ônibus, chamou seu inspetor, e buscou encaixar meu retrovisor, que teve algumas peças quebradas. Depois disso, aquilo que a gente acha que não acontece vem à tona: o motorista admitiu ser culpado, e quem arca com o ônus é ele, claro, e não a empresa.

De repente uma quantidade de sentimentos me vem à tona: Eu, que tenho um carro pra usar quando quiser, que não preciso trabalhar pra me sustentar, vou cobrar um retrovisor de um motorista que além de tudo agora é trocador? Porque sim, a nova modalidade do transporte público é essa. O motorista é o trocador. Mais desempregados nas ruas da cidade, menos custos para os donos da empresa de ônibus, e mais acidentes, claro. Como? Como um imbecil de um milionário (ou estelionatário) do dono da empresa de ônibus tem dinheiro para presentear o filho com um Audi, ao 16 anos, e não tem dinheiro para pagar um retrovisor, ou um trocador. E aí depois, o motorista, que além de motorista, é trocador, ou seja, enquanto dirije tem que fornecer troco e etc., bate, e a culpa é dele.

A minha primeira reação é ter ódio deste empresário. Tão forte, mas tão forte que chega ao sentimento de pena. Depois chorar. Como alguém tem coragem de lucrar tanto às custas de outro. As custas do pobre, que tem uma família pra sustentar, que trabalha quarenta e quatro horas por semana. Desse a gente tem que ter compaixão. Do dono da empresa de ônibus, tem que ter pena.

O capitalismo diversifica a luta de classes das mais diversas maneiras. A gente tem que estar sempre preparado para combatê-la dentro do possível no sistema capitalista. Só não ver quem não quer. E ai dos pós-modernos que aparecerem na minha frente nos próximos meses.