domingo, 19 de dezembro de 2010

Como naqueles dias em que o coração e todos os sentimentos do mundo se atrofiam e você só quer pensar quando ele vai ligar.
E ele não liga.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Mata essa angústia
que caminha pelo meu sangue
e me corrói.

Extirpa todo o mal
que embaça a minha visão
e não me permite ver vitória no horizonte.

Aniquila o pensamento
que não ultrapassa a crítica
e faz com que todos os dias amanheçam nublados.

Tenho vertigem
só de não poder sonhar
com o que será.

Caminho pelos porões com a certeza de que todos um dia passarão por lá.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

A esquerda e a democracia

A todo momento nós, de esquerda, somos chamados de terroristas, genocidas, assassinos e uma série de adjetivos pejorativos. Estes adjetivos vêm sempre carregados com uma falsa ideia de que nós, de esquerda, não temos compromisso com a democracia e com os valores republicanos. Que um governo nosso será de medo e de término das liberdades individuais.

Hoje, na PUC-Rio, universidade em que estudo, um economista afirmou em um debate que devemos "impedir a revolução bolivariana que está em curso no país".O que deve ser explicado a todo momento é que para nós, de esquerda, a democracia é algo de muito valor. Somos nós que priorizamos e lutamos para que haja um ambiente democrático, e somos nós que perdemos com a ausência do mesmo. Sem ele, nós somos assassinados e torturados apenas por nos expressarmos. Sem este, a tão importante participação popular não se faz presente. Sem este, não se garante nenhum direito às mulheres, aos negros e aos homossexuais. Sem este, os trabalhadores permanecem sendo explorados de todas as formas possíveis.

Para que possamos consolidar o processo de aprofundamento da democracia que está em curso no Brasil, precisamos ter claro entre nós mesmos - companheiros - que este é um valor nosso, da esquerda, por mais que os grandes meios de comunicação - os verdadeiros descompromissados com a democracia - afirmem diariamente o contrário. Não se faz democracia sem inclusão social e participação popular, sem empoderar todos aqueles milhões de brasileiros que em 500 anos de história deste país foram escravizados, esquecidos e marginalizados.

Temos hoje boas condições colocadas para que os próximos anos propiciem ainda mais mudanças para a sociedade brasileira, em diversas áreas. Para isto, precisamos estar atentos: participar ativamente nos Movimentos Sociais e nas diversas Conferências a serem realizadas (como de Comunicação, de Educação e de Segurança Pública), propiciando um ambiente favorável para a formulação e implantação de políticas públicas feministas, anti-racistas, anti-homofóficas e sobretudo classistas, que aprofundem o processo de consolidação da democracia em curso nestes últimos oito anos.

Não existirá uma democracia efetivada enquanto existir opressão e exploração. Nós sabemos disso. E só nós poderemos reverter e consolidar um novo quadro para a história brasileira: vamos às ruas!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Esses versículos que você insiste em profanar
Divergem do vazio da sua alma

Esta cara lavada com que você sai às ruas
Não conseguem esconder a maquiagem impressa em seus olhos

Todas as vezes que o povo gritou você se escondeu
E quando o povo foi proibido de gritar você fugiu

Mas o povo voltou
E a cara do povo nunca sai lavada às ruas
Porque ela sua

E não adianta você tentar acompanhar o povo
Desligando o ar-condicionado do seu escritório
Porque ele agora sabe

E este direito ao saber
Conquistado com suor, lágrimas e risos
Está vivo

Vivo não como chama
Mas como tijolo e concreto dos sonhos daqueles que nunca desistiram
de gritar.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Posturas políticas

Existem diversas opções que tomamos na vida que são posturas políticas.

O meu irmão plantar legumes, frutas e verdades aqui em casa é uma postura política. Uma postura contra a monocultura no Brasil, contra os grandes latifundiários que utilizam de milhares de hectares de terras neste país para usofruto próprio, contra os agrotóxicos que são utilizados nos alimentos, contra a ausência de uma reforma agrária efetiva que permita uma distribuição justa do alimentos e dos meios de produção.

A minha mãe, de uma escola que vive de doações e só tem os professores pagos, atendendo em educação integral com café da manhã, almoço, jantar e uma série de atividades extra-curriculares mais de 300 crianças do maternal ao 5º ano que estão na linha da pobreza em Niterói, também é uma postura política. É uma forma de mostrar como o Estado ainda precisa avançar na educação, como isso precisa ser feito de forma efetiva. É uma postura de combate à fome e a miséria, de desenvolvimento do ser humano, de apresentar a eles outras opções e de prepará-lo para ser um agente de transformação social.

Você ser Cristão, também deve ser uma postura política. Quando Cristo fala de amor ao próximo, de bem-aventurados os que tem sede de justiça, ou de que os ricos não entrarão no reino dos céus - só para citar alguns exemplos - isto é tomar uma postura de irmos atualmente contra o capitalismo, o materialismo desenfreado, contra a acumulação e a não distribuição da riqueza.

Muitas vezes dizem por aí que nada se mistura com política. Este equívoco se comprova quando vimos que todas as nossas opções são opções políticas. Nesses tempos de eleições fico pensando em como as pessoas tendem a querer se afastar delas, ou pessoas com posturas tão corretas na vida acabam votando em candidatos que vão na contra-mão de seus ideais. O que é necessário fazer é unir todas as suas posturas e ver o candidato que melhor se enquadra. Assim é impossível um cristão votar num candidato que vai contra o trabalhador, ou um educador votar num candidato que deprecia e precariza a educação pública.

Política não é só partido, deputados e presidentes. Política são todas as posturas que tomamos na vida com relação ao próximo, a nós mesmos, e a sociedade. Resta todo o mundo assumir o seu lado, contra quem e a favor de quem se está. Eu já assumi o meu.



*Para Vereador é Robson Leite 13013

quarta-feira, 2 de junho de 2010

As noites do verão passado não eram tão frias como esta
Você olhava pra mim sem compromisso
E eu ria.

Quando veio se aproximando o outono
Você dividia comigo o seu quilte
E a gente dormia vendo filme como amantes
Um abraçado ao outro, com medo de se perder.

No inverno a gente acampava
Era gostoso todo aquele calor dividido no nosso iglu
A cachoeira nao parecia fria
E a cachaça ajudava quando o calor esmorecia.

Quando chegou a primavera
Eu nem vi passar
Ela parecia um trailer do que viria a seguir
E eu temi.

Neste verão, a gente ainda usa do mesmo lençol
Mas dorme cada um pro seu lado.

domingo, 23 de maio de 2010

Bons eram os tempos de pouco caso
de descaso, de leveza
Onde tudo era ainda muito cedo
Onde as manhãs não eram perdidas
porque havia a certeza do sol

O retorno não existe mais
Nem as vias de mão-dupla
Agora tudo segue em uma só direção
e a gente quando viu já era tarde

As paradas no posto de gasolina são úteis
para continuar seguindo
O carro às vezes engasga
e as vezes sou eu que engasgo.

Quando percebi já não havia como
O piloto automático não me permitiu pegar a direção
de volta pra mim

E agora eu vejo,
como as coisas fugiram do meu controle.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Tudo poderia ter sido em vão
Restaria a tranquilidade de não ter que me perguntar
o porque de pisar tanto em ovos
[e ainda assim de gostar]

Se tudo tivesse sido em vão
Não seria preciso encontrar-te em meus devaneios
Nem me enfeitaria frente ao espelho na esperança de te encontrar
[Na vida ou dentro do espelho]

Como tudo não foi em vão
Contento-me com o que não foi
E em idealizar o que poderia ter sido
[e chorar]

Recomponho-me não por querer
Mas por necessidade
Sinto-me obrigada a encarar o horizonte
E sorrir para ele
[Ainda que seja tarde]

Deito-me na cama como quem guarda um lugar para alguém em sua alma.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

amou daquela vez como se fosse filha


Há mais ou menos dois anos conheci uma pessoa que mudou a minha vida por inteiro:

Isabell Allende. Escritora Chilena, sobrinha de Salvador Allende, Isabel foi capaz de revirar os meus sentimentos do avesso e não permitiu que eles voltassem até agora. Não há melhor escritora que romanceie América Latina, ficção e História do que ela. Caminha por Neruda, pela formação do Chile e pelos golpes militares ocorridos pela América Latina com uma fineza e uma intensidade de poucos.

Com ela eu me apaixonei pelo Chile e me reapaixonei - porque o bom de se apaixonar e poder desfrutar deste sentimento diariamente- pela História dos povos latino-americanos. E com ela, graças e ela, eu pude conhecer profundamente Valparaíso e todas as perversões que lá ocorreram. Os mais sórdidos romances, as mais intensas batalha, os maiores ecos de liberdade. Desde então Valparaíso faz parte da minha vida.

Hoje descobri que Valparaíso foi atingida por um terremoto que deixou a cidade em escombros. Nunca poderia ter recebido tão triste notícia. Eu já tinha vivido um terremoto em Valparaíso pelos meus livros, em meados da década de 50. Casas tendo que ser reconstruídas, pessoas que perderam tudo que tinham, parentes desaparecidos. Agora estou vivendo com o meu eu-próprio e caminhando na minha imaginação sobre cada paisagem e quase chorando.

É impressionante como ficção e realidade se confundem. Não deveriam se confundir, mas se misturar. Porque a vida é quase como uma obra de ficção que insistimos em dizer que são reais, mas que são tão criadas por nós como uma novela qualquer.

Hoje eu vou rezar por Valparaíso junto com Esteban Trueba, Celia, Blanca, com os DelValle e com o meu acumpunturista predileto. Espero que a cidade se recupere. De uma coisa é certa: o amor por Valparaíso está presente em todos aqueles que não foram, mas que sabem exatamente como é. E que amam e se apaixonam por lá como se fossem solo chileno, ou como rochas que terremotos se mostram incapazes de destruir.

Atualmente Isabel vive nos Estados Unidos. Ainda bem. Nada melhor do que novas histórias quando a memória começa a ficar turva.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Eu poderia ter um viveiro em casa. Nesse viveiro estariam todos os meus amigos. Mas não seria um viveiro que aprisiona e que não deixa a pessoa sair. Seria um viveiro ao ar livre, onde todos poderiam sempre sair, mas todos sempre voltariam, porque não haveria lugar melhor no mundo do que aquele viveiro.
Nele estariam os rouxinóis e os canários. Teriam poucos tiês-sangues, para lembrar da Ilha Grande e dos grandes amigos que fazemos. E dos lugares que se tornam cativos. Este viveiro com certeza seria um lugar cativo.
Todo dia de manhã esses pássaros cantariam e me acordariam. Não por obrigação, apenas por serem bons amigos. Depois disso eles iriam em outras casas para alegrar as pessoas tanto quanto eles alegram a mim.
Cada pássaro seria para um pensamento ou uma ação diferente. O rouxinol para risadas, o tiê-sangue para a filosofia. O canário para a música, ou para a capoeira.

Eu poderia ter um viveiro em casa. Mas os pássaros viveriam muito menos que eu e eu me sentiria muito triste sem eles. E não adiantaria se viessem outros, porque eles seriam tão queridos quanto, mas não cobririam o espaço. É como se a cada pássaro que fosse embora, uma parte do meu corpo saísse. No fim eu até estaria aqui, mas muda e estática.
Ainda bem que eu só poderia ter um viveiro em casa. Pensando bem, prefiro ficar sem o viveiro. Assim espalho meus amigos e permito que eles ecoem seus cantos aos quatro cantos do mundo.

Meus amigos bem que poderiam ser pássaros, mas ainda bem que não o são.