sábado, 17 de outubro de 2009

- Vem aqui? Vem pra eu te dizer com meus olhos?



(Você é único).



-Vem aqui? Vem pra eu te dizer com as minhas mãos?



(Vou te agarrar aqui e agora).



-Vem aqui, vem pra eu te dizer com meu sorriso?



(Espero uma vida inteira pela alegria que você me dá).



-Vem aqui, vem pra eu te dizer com o meu calor?



(Eu sempre vou te amar).



-Vem, vem pra eu te dizer com os meus lábios?



- (...)

sábado, 10 de outubro de 2009

*

Há um que de vazio em mim
Um que de explosão
Um que de desencontro.

Há um pouco de metamorfose em mim
Um pouco de apego
Um pouco de overdose.

Há muito de você em mim
Muita paixão
Muito medo.

Há plenitude,
Insanidade.

Há desespero,
comodidade.

Há um universo,
só vejo você.


*na madrugada tentativas de escrever são geralmente mal-sucedidas. não ligo. desprezo a norma culta da melodia.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Rostos marcados pela exploração
Bocas que por muito foram amordaçadas
Mãos de quem não fora permitida a escrita
Mão marcadas pelo enxague
pelas roupas lavadas
pelas banheiras esquentadas.

Protagonistas da história,
mas a margem da história
A frente das mudanças
sempre esteve presente
A história as tratou como margens.

As médicas,
bruxas.
As revolucionárias,
mal-amadas.
As feministas,
sujas.

Protagonistas da história
Não apenas de suas próprias
Mas das mais belas:
as emancipadoras, as libertadoras.

Na contemporaneidade, a opressão se traveste
Vai a uma festa a fantasia vinte-e-quatro horas por dia
Há um quê de crença no mimetismo dos que não buscam compreender.

Mas estas não se calam
Jogam água no rosto
Arrancam as mordaças
Colocam bandeiras na mão e na alma

Estão em todos os locais combatendo as raposas
Nas moradias, nas ruas, nos escritórios.

Há de haver sempre uma mulher expondo e combatendo a dor que a fazem sentir
Passando por cada avenida deste planeta.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

As leis não bastam, os lírios não nascem das leis. Tenho apenas duas mãos e todo o sentimento do mundo, mas estou farto. Nunca conheci ninguém que não tivesse levado porrada na vida. De ontem em diante, serei o que sou no instante agora, que este instante não seja eterno, posto que é chama, mas infinito enquanto dure. Bem-aventurados os que tem sede de justiça, pois dele é o reino dos céus.

Miscelanea
s.f. Mistura, compilação de peças literárias ou científicas. / Coletânea de estudos sobre determinada especialidade, redigidos por vários autores em homenagem a alguém. / Fig. Confusão; promiscuidade. / Fig. Mistura de várias coisas.

Sentimento
s.m. Ato ou efeito de sentir. / Aptidão para sentir; sensibilidade. / Sensação íntima, afeto: os sentimentos de um pai. / Conhecimento imediato; intuição: tem o sentimento de seu valor. / Dor, mágoa, desgosto. / &151; S.m.pl. Qualidades ou tendências morais: estar animado de bons sentimentos. / Pêsames: aceite meus sentimentos.

Não, meu coração não é maior que o mundo.
Para isso eu faço do mundo quase uma maquete para que todo ele caiba no meu coração.
E ai dá um aperto, um aperto no coração.

Uma mistura de confusão, de várias coisas, com uma enorme aptidão para sentir, para a sensibilidade.

O escrito se encerra por aqui. Sem dizer nada. Sem mais do mesmo. Corre risco da pessoa que vos escreve morrer de parada cardíaca se continuar a escrever. Motivo: Carregou mais do que devia nesse seu coração.*

*isso me lembra algum texto anterior

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Coisas que deveriam ser ditas em um enterro:

"O que a gente está enterrando hoje, aqui neste cemitério, não é uma pessoa, um amigo, um pai, irmão ou uma avó. O que a gente está enterrando aqui hoje é o corpo, a carne de alguém. E esse alguém não foi algo, esse alguém é. Porque a vida, meus caros, não termina na carne, e desencarnar é um processo constante para o espírito de cada um de nós.
Ninguém deixa de ser, a pessoa sempre será. A morte é apenas uma travessia do corpo, carnal, para o espírito, que é imortal. E o espírito das pessoas que amamos está eternizado para sempre em nós mesmos. Não na nossa carne, porque um dia a gente também termina. Mas no ideário dos melhores sentimentos que existem e que não se limitam ao nosso espírito, mas a toda a psicosfera que ainda hoje não podemos explicar o seu tamanho e a abrangência.
Usemos esta cerimônia para celebrar e homenagear, não pontualmente. Mas que esta seja a primeira das constantes homenagens ao nosso(a) amado, tendo a certeza que com o tempo, todos nos encontraremos e nos reiventaremos, fortificando e amadurecendo o nosso amor ao próximo, e extendo-o ao infinito.
Porque a carne, a gente mata. Mas o amor sempre sobrevive."

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ser

Não quero ser conhecida como aquela que não chorou.
Aquela que não sentiu, que não amou, que não sofreu.
Não, não quero terminar como um porta-retrato na sala de estar dos meus netos.
Como um porta-retrato que não diz nada.

Não preciso ser conhecida.
Posso terminar minha vida como uma anônima
em uma manifestação estampada na capa da revista.
Posso terminar minha vida como uma multidão
Como alguém que foi todos e não foi ninguém.

Não quero ser conhecida como alguém que poderia ter sido e não foi.
Que poderia ter sorrido mas chorou
ou que poderia ter chorado, mas sorriu.
A vida, ao contrário do que dizem, não é uma peça de teatro
A vida é real, e a realidade grita
Não pede ensaios, controles nem marionetes.

Não preciso ser conhecida,
Posso ser eternamente um porta-retrato
Mas que se expresse
Que não tenha um fim.
Se for conhecida
que me conheçam como aquela que teve uma chance
de mudar a História e o Mundo
E que aproveitou-a.

Que em meu túmulo tenha apenas uma frase:
Jaz aqui aquela que viveu.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Sobre transporte público e exploração

Hoje andando de carro calmamente pelas ruas de Niterói, vejo meu retrovisor voando do meu lado. Foi parar do outro lado do asfalto. A "vítima" fui eu, o "causador" o ônibus.
Passado todo o desespero inicial, o motorista do ônibus muito solicito parou o ônibus, chamou seu inspetor, e buscou encaixar meu retrovisor, que teve algumas peças quebradas. Depois disso, aquilo que a gente acha que não acontece vem à tona: o motorista admitiu ser culpado, e quem arca com o ônus é ele, claro, e não a empresa.

De repente uma quantidade de sentimentos me vem à tona: Eu, que tenho um carro pra usar quando quiser, que não preciso trabalhar pra me sustentar, vou cobrar um retrovisor de um motorista que além de tudo agora é trocador? Porque sim, a nova modalidade do transporte público é essa. O motorista é o trocador. Mais desempregados nas ruas da cidade, menos custos para os donos da empresa de ônibus, e mais acidentes, claro. Como? Como um imbecil de um milionário (ou estelionatário) do dono da empresa de ônibus tem dinheiro para presentear o filho com um Audi, ao 16 anos, e não tem dinheiro para pagar um retrovisor, ou um trocador. E aí depois, o motorista, que além de motorista, é trocador, ou seja, enquanto dirije tem que fornecer troco e etc., bate, e a culpa é dele.

A minha primeira reação é ter ódio deste empresário. Tão forte, mas tão forte que chega ao sentimento de pena. Depois chorar. Como alguém tem coragem de lucrar tanto às custas de outro. As custas do pobre, que tem uma família pra sustentar, que trabalha quarenta e quatro horas por semana. Desse a gente tem que ter compaixão. Do dono da empresa de ônibus, tem que ter pena.

O capitalismo diversifica a luta de classes das mais diversas maneiras. A gente tem que estar sempre preparado para combatê-la dentro do possível no sistema capitalista. Só não ver quem não quer. E ai dos pós-modernos que aparecerem na minha frente nos próximos meses.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

enigma.


Não venha me dizer o que é aceitável. Não venha me mostrar o que é justo, o que é correto. Não vem me dizer o que os livros mostram e o que o coração não diz. Esqueça todas as suas conversas, os seus livros, os seus filmes e o seu ouvido aguçado para a música. Não pense em vir com filosofias não compartilhadas, com amores não ditos, com vida dita vivida.
Não que os livros, e os filmes não sejam necessários, não que a arte deva ser desprezada. Mas me venha com mais que isso.
Não se acostume a falar, a discursar e a ver a banda passar. Não se acostume com sorrisos aflitos, com olhares perdidos, com povo sofrido.

Não venha me dizer o que é bom. O que devo fazer, a quem devo seguir, como me comportar. Não me venha apenas com a retórica da academia, ou com a filosofia da mesa de bar.
Não se acostume a não ver, a não viver, a não se comover.

Traga consigo todo sentimento que você puder carregar. Mostre-me não apenas que é culto, que é nobre. Mostre-me o oculto, os laços invisíveis, as palavras que não precisam ser ditas para serem compreendidas.

Se você quiser vir assim, que venha. Mas te garanto: Prefiro esse jeito-sem-jeito. Esse amor imperfeito. Esse riso que é pranto e vida. Pode até que seja rua-sem-saída. A gente se supera superando as enfinges contidas.
Venha, por favor, não deixe de vir.
Venha sendo mendigo, sendo catador, sendo mulher, sendo operário. Venha sendo todos e não sendo ninguém.
Venha aberto, descoberto.
Não espere, de maneira alguma. Não espere o porvir.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Naquele dia lindo de verão, em uma tarde ensolarada de sábado, ele olhou para ela como se fosse lágrima. Ele, sentado embaixo de uma árvore, não percebeu o que estava ocorrendo naquele exato instante. Não percebeu o imperceptível. Ela, jorrou-lhe meia dúzia de palavras chulas, esperando que depois disso ele corresse para abraçá-la. Ao contrário do que ela pensou, ele continuou olhando-a como se fosse lágrima. E ele não chorava, mas ela, sim, ela chorava muito. Ele não pode dizer nada. Como de costume, eles nunca podem dizer nada, eles nunca dizem nada. Apenas as encaram, esperando que tudo volte a ser como era antes.
De repente, como num gesto súbito, ele levantou da sombra que estava sentado e -sem dizer nada- passou a mão nos seus rostos fraternalmente, enxugando as suas lágrimas que corriam como o véu de uma noiva e a abraçou. Ele e ela sabiam que aquela seria a última vez que ele enxugaria as suas lágrimas. E o primeiro, de muitos 'Adeus' que eles começariam a dar ao longo de suas vidas.