segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

triste cotidiano.

Eu pensava que sábado normalmente fosse um dia feliz para as pessoas do Rio de Janeiro. Dia de sair, ouvir um samba, tomar cerveja com os amigos e as amigas, se deliciar a noite e se o dia for ensolarado ainda poder ir à praia pela manhã.
Este sábado fui para mais um dia de alegria. Porém uma imagem ficou na minha cabeça quando me dirigia a uma noite maravilhosa. Como se fosse um carro de vendedor de sorvete, em que o sorveteiro sai a rua e distribui picolés para as crianças (como nos filmes), vi uma patrulha policial em que saiam 4 destes com fuzis nas mãos em direção a um bar, aqui do Centro de Niterói. Passei por esse bar e vi pessoas se escondendo embaixo dos carros, parecendo aterrorizadas. Passado isto, fiquei pensando como esta cena seria condenada se fosse na Zona Sul ou em um bar que os filhos da classe média frequentam por esses lados da ponte. Comentei com uma prima que estava no carro comigo, e ela disse: -Eu nem me abato mais, pois se não ficaria todos os dias triste.
Essa cena desde sábado não sai da minha cabeça. A que ponto nós chegamos? A ponto de não nos abater? Que fiquemos tristes, que choremos, que gritemos. Que choremos de raiva.
Fiquei pensando nas milhões de pessoas espalhadas pelas periferias do Brasil que tem que se esconder, e se deparar com policiais com fuzis na mão é algo cotidiano. Gente inocente, gente com filho, gente que viver é uma batalha. Uma batalha contra balas perdidas, contra filhos assassinados, contra a fome.
E a gente se assustando e chorando com casos como o de Isabela Nardoni. E não chorando e se assustando com crianças que morrem quando jogavam bola com os amigos em suas favelas.
Em tempos de caveirão, de tráfico de armas, de ausência total de sensibilidade, nunca é demais citar Brecht:

"Desconfiai do mais trivial , na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar".

Um comentário:

Amandla Awetú disse...

Por isso estou do seu lado, sempre!
Prefiro me abalar todos os dias, com as mesmas coisas.